sexta-feira, 7 de março de 2014

Desejo covarde

O que eu queria mesmo era dizer adeus sem olhar para trás, dizer já de costas enquanto caminhava rapidamente, quase como um trote. O sobretudo aberto esvoaçava como que por efeitos especiais. Em meio segundo, sem perder os passos e sem olhar para qualquer lado, se não para frente, amassei e joguei o voucher de uma maneira automática em uma alta e esquia lixeira prateada. Quase tropecei numa criancinha, mas não tinha nem ar para parar e pedir desculpas. Alcancei a imensa porta transparente, que um senhor assustado segurou enquanto eu transpassava loucamente, entrando num táxi, aonde o chofer abrira a porta para outra pessoa. Sentei, abaixei a cabeça, e respirei fundo sentindo a lágrima subir pela narina. Queria pedir para arrancar logo o carro e irmos, mas para onde? Era o que eu queria ter feito...
Abri os olhos e me vi....
Estava sentada, ansiosa, balançando a perna direita e olhando o voucher que gostaria de ter jogado fora em minhas mãos. Enquanto balançava a perna tentei me concentrar na sujeira de barro na borda lateral da minha bota. Olhei o painel. O vôo não atrasou como eu queria que acontecesse. Sempre atrasa, hoje não. Lei de Murphy.
Era fraca o suficiente para ficar ou porque não sairia correndo? Uma decisão deveria ser tomada, e eu só queria atirar nos auto-falantes do aeroporto, para que aquela voz anasalada and apiranhada parasse de tagarelar...

0 comentários :

Postar um comentário

Obrigada por comentar. Suas palavras são meu incentivo e inspiração.

 
;