sexta-feira, 7 de março de 2014

A CARTA


Tenho consciência, ser amado, que sequer suspeito do que seja faísca da verdade declarada como tal. Mas com minhas experiências, sozinha ou em tua presença, irradiando felicidade ou amargando o fel de sofrer como um cão na sarjeta, cheguei ao cerne desta minha suspeita verdade de vida.

Só se aceita e goza-se o verdadeiro amor quando se é e se deixa ser livre. Aprendi que o amor não se resume em estar ao lado de sua paixão. Por mais que se queira compartilhar, este nobre sentimento nasce de um ser único, brota com vontade própria de existir, apenas damos a permissão que desabroche. Este amor é feito uma criança, um filho qual gera, alimenta com seu sumo mais valioso e vitamínico, o educa, ensina valores, certo e errado e quando no auge, na explosão, este se torna livre. E é aí quando ele realmente existe.

Escrevo-te agora sem rimas e sem ao menos escolher as palavras, mas neste papel há respingos salpicados da minha alma. São como brilhantes refletindo minha felicidade de descoberta de um amor livre e puro.

Nem quero sequer pensar que poderia outra vez causar-lhe peso, rugas, angústias e desgostos desnecessários de minhas lembranças. Não quero mais forçar-te a pensar num futuro que ainda não existe. Só penso em ver o branco alegre do teu sorriso cegar-me, mesmo que eu não tenha sito a autora desta felicidade reluzente.

O amor não é orgulhoso e permite sim que outros objetos, talvez não com a mesma função ou desígno, nem no mesmo lugar na estante, mas ilumina-se em ver o bem feito a quem se ama, mesmo estando distante, em outro mundo. Prefiro ser Carolina feliz, observando da janela, do que ser protagonista de beijos não quistos.

Envergonho-me quando lembro quantas vezes forcei um “prazer ilusório”, um prazer torturado. O gosto e admiração pela sua carne cegava-me sem permitir que visse a grandeza e beleza de sua alma. Ainda admiro esse corpo moreno que tanto me encanta, mas agora tua alma é tão clara, linda que não mais me acuso de não ter o belo corpo que julgava que você merecia, pois agora é meu espírito alegre e vivente que está em compatível beleza ao seu, quero mostrar. Sinto mais viva, mais bela e feliz. Isso porque me entendo mais, me cobro como ser passível de erro em busca de evolução. A perfeição é loucura.

Compreendo agora o que fazer com esse sentimento que gerei, alimentei, ensinei e eduquei. Ele explodiu e tornou-se livre, na mais bela forma de liberdade. Sorrisos e gentilezas me tornam leve e aquecida. Se o amor começa a transbordar, começo a distribuir leves doses por aí, não com a mesma fórmula que dispenso à você, mas que é capaz de adoçar um amargor.

Quero encontrar-te mais que nunca, mas quero lhe dar um longo abraço e dizer da felicidade que sinto vendo sua leveza e que não desejo mais pesar-te. Quero-o livre. Livre quem sabe para amar, mais principalmente livre para ser feliz, para poder sentir esse aquecimento que tenho agora da certeza de que nada há que se fazer, senão viver.

Espero que um dia sinta esse amor, se já o gerou, que cultive, alimente, eduque e o liberte. Que ele seja gerado por qualquer ser, por qualquer motivo, ou nenhum. Obrigada por ser o meu objeto despertador para a vida adormecida em mim. Acorde também e venha caminhar comigo. Há tempo e me alcanças.


Beijos!

BC

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